terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A obsessão pela co-incineração


A única vantagem de sermos os últimos a implementar uma ideia, é que podemos faze-lo tendo em conta os erros dos pioneiros. No caso da incineração, ao sermos os últimos, não é racional que os erros ambientais e a corrupção dos outros não nos sensibilizassem. A obsessão do PS levou-nos a escolher a pior solução do ponto de vista da eco-eficiência para além de outras questões marginais, algumas muito gravosas em termos de impacte ambiental local, regional, nacional e global. Como fonte de lucro foi e é uma oportunidade irrepetível para determinados grupos económicos que noutras países gerou corrupção e tráfico de influência em larga escala.


Alguns problemas da co-incineração:

  • O sistema baseia-se na “destruição” dos resíduos através de um processo térmico. O método tecnológico consiste na passagem da matéria de um estado para outro. Assim neste processo gera-se energia (incorporada no processo produtivo), formam-se gases que se escapam para a atmosfera (alguns comprovadamente perigosos), materiais “estabilizados” aprisionados no cimento (não analiso a “bondade” e o pretenso “sem riscos” do processo. Têm surgido muitas críticas em estudos sérios da comunidade cientifica);
  • Este processo do pondo de vista da eco-eficiência é desaconselhado porque destrói recursos cada vez mais escassos. A perspectiva deveria ser de redução (eficiência da utilização dos materiais), reciclagem e reutilização. Somos um País pobre com alma de ricos. Melhor temos um povo à beira da miséria, mas os nossos políticos, do sistema de poder, desfrutando de rendimentos ao nível europeu, agem como marajás;
  • O processo agora aplicado em Portugal, está a ser abandonado noutros países pois verificou-se que, gera um ciclo infernal que vai ao ponto de se estimular criação de resíduos só alimentar o negócio. A incineração (ou co-incineração) alimenta a chamada corrupção ambiental –. As empresas incineradoras estimulam a produção de resíduos junto das indústrias produtoras. O Estado paga a “destruição” dos resíduos (a destruição recursos escassos), a indústria incineradora estimula o mercado para se produzirem mais resíduos, o Estado paga mais, assim por diante…;

  • Do ponto anterior podemos inferir de um retrocesso na implementação de políticas de Produção Mais Limpa ou seja: a introdução de processos produtivos onde os ciclos dos produtos permitam ganhos de eficiência ambiental e poupanças de recursos esgotáveis. Estes métodos de eco-eficiência são fundamentais para a efectiva modernização da economia e a inovação dos processos tecnológicos.


Porque foi escolhida?

A primeira razão prende-se com um problema cultural e educacional do eleitor. Os nossos governantes, mal formados (ou bem formados) tomam decisões às vezes simples, como esta, mas que o povo muitas vezes não consegue analisar. A ideia de "a queima faz desaparecer os lixos" e "tudo purifica", é um conceito aceite em Portugal há séculos. Neste País até as almas eram purificadas em fugueira no meio de praças públicas. O conceito serve na perfeição, alguns grupos económicos instalados no sector das cimenteiras que encaram este negócio como um "maná" que lhes possibilita irem sacar dinheiros públicos e assim beneficiarem da cada vez "melhor oleada" máquina capitalista de Estado aos serviço dos monopólios. Com a perspectiva, como aconteceu noutros países, desses grupos ditarem regras muito prejudiciais para o erário público na obtenção do lucro fácil.
Acrescente-se a tudo o dito até agora, os atentados ambientais (terrorismo ambiental de Estado) perpetrado contra o Parque Natural da Arrabida, ecossistema único mundial e portanto a carecer do encerramento da fábrica de cimento, limitação de transportes de grande impacte, e intervenção e recuperação paisagística. O Parque Natural da Arrabida é património único local, regional, nacional e internacional. Uma riqueza inestimável para as futuras gerações.
Este País necessita de uma política de esquerda para o ambiente.

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